Conselhos de Jean Donaldson para Treinadores

Os principais conselhos de Jean Donaldson para treinadores e educadores caninos, e para todos os que querem trabalhar com cães.
Entrevista a Jean Donaldson

Temos partilhado vários excertos, organizados por temas, da grande entrevista que realizámos à Jean Donaldson (link de vídeo). Sendo uma das especialistas mais reconhecidas da área do treino e comportamento canino a nível mundial, não quisemos despedir-nos sem antes perguntar-lhe quais os conselhos e recomendações que dá a quem trabalha, ou a quem quer vir a trabalhar, nesta área.

Podem ver os restantes excertos aqui:

  1. Comportamento canino:  a inteligência, a dominância e a imitação;
  2. Ansiedade de separação no cão;
  3. É errado castigar o cão? Reforço positivo, punição e castigos aversivos;
  4. O treino deixa o cão demasiado excitado?
  5. A esterilização e a eutanásia.

Não percam a entrevista completa em vídeo.

Recomendações e conselhos de Jean Donaldson

Jean, costumamos recomendar os seus livros por terem uma abordagem clara e coerente, e por transmitirem uma mensagem que facilmente é apreendida pelas pessoas. Gostaríamos de lhe pedir que recomendasse quatro ou cinco livros aos nossos leitores, para além dos seus.

Claro. Há um, em particular, que saiu há uns anos atrás, que se chama “Wag – The Science of Making Your Dog Happy”, da Zazie Todd. É um livro sobre a ciência de manter os cães felizes. Quando eu comecei neste mundo, nunca se conseguiria vender um livro destes. Naquela altura, era-se considerado um bom dono quando se tinha controlo sobre o cão. Agora, o mais importante é manter o cão num bom estado emocional e físico, com uma boa qualidade de vida, fazendo com que seja feliz. É este o objectivo que hoje em dia estamos a tentar atingir, o que é bom. Este livro aborda tudo isto com base na ciência. Acho que é um livro excelente.

Depois, o livro “Don´t Shoot The Dog”, da Karen Pryor, é um clássico. Acho que toda a gente deveria ler. Não é apenas sobre treino de cães mas também sobre a sociedade em geral.

Há outro livro que, na verdade, não é sobre treino de cães, mas é um livro que eu recomendaria a treinadores. Se és um treinador e estás a sentir-te cansado sobre a situação do treino e do mundo, há um livro, do autor Steven Pinker, que se chama “The Better Angels Of Our Nature”.

É uma pesquisa sobre as diferentes tendências no tempo. Todos sentimos que, por vezes, as coisas estão más e que nunca estiveram piores. O Steven reconhece que algumas coisas estão de facto más e que, ainda, há muito trabalho a ser feito. Mas ele mostra-nos várias tendências sob diferentes indicadores multiculturais e estatísticos, e, na realidade, o mundo está a melhorar. Portanto, se sentirem que estão a entrar em esgotamento, ou que não conseguem lutar mais… eu, às vezes, tenho dias em que sinto que estou à volta de algo e que nada muda, mas, na verdade, está a mudar, está a melhorar. Vocês são muito novos mas… oh Meu Deus… quando eu comecei no mundo do treino, se se tentasse dizer que devíamos treinar um cão usando comida, ser-se-ia gozado. O que é ridículo. 

 

Ainda temos treinadores e pessoas que pensam assim em Portugal…   

Ainda existem, mas já não é o caso em que 99% dos treinadores pensam desta maneira. Agora é uma luta justa! Sabem, nunca se teria tido esta conversa há 30 anos atrás. Portanto, as coisas estão definitivamente a melhorar.

Recomendo, também, outro livro para treinadores de cães, que se chama “Made to Stick”. É um livro sobre como apresentar ideias para que estas entrem nas mentes humanas e fiquem retidas. Temos a tendência, enquanto treinadores, de dizer que os donos não fazem o que nós dizemos, que são maus donos e que não há nada que possamos fazer. 

Acho que, enquanto treinadores, temos paciência para os cães, com quem somos capazes de fazer várias repetições, mas, por vezes, se o dono não compreende de imediato, achamos logo que é um cliente de “treta” e que o seu cão é um coitado por o ter como dono. As pessoas precisam também de repetições.  A mudança é um comportamento caro. Educar as pessoas é fácil de dizer, mas é muito difícil de fazer.

Pedir mudanças comportamentais em coisas fáceis de mudar, como, por exemplo, parar de pôr a louça na máquina no sítio errado, deixar coisas na mesa ou roupa no chão, não é fácil. Portanto, imagine se estamos a pedir às pessoas que têm de dedicar bastante tempo de treino ao seu cão e que têm de mudar a sua abordagem relativamente a este. Isto será bastante mais difícil. Por isso, acho que temos de ser tão amáveis com os clientes como somos com os cães.

Muitas vezes, os cães não são as vítimas dos donos. São, antes, vítimas dos treinadores que, durante imensos anos, foram incapazes de concordar com conceitos básicos, fazendo coisas como electrocutá-los. Por isso, não admira que os donos fiquem confusos.

 

Esse ponto é muito interessante. Um bom treinador também tem de ser uma pessoa que consiga alcançar o cliente e transmitir bem a sua mensagem.

Sim, não pode ser uma pessoa que adora cães e que não gosta de pessoas, tem de se gostar de pessoas. 

 

Inúmeros treinadores portugueses têm a Jean como uma das suas referências, inclusivamente entre aqueles que se iniciam na profissão. Que conselho daria a estes jovens treinadores de cães para ajudá-los a ter sucesso nas suas carreiras?

A coisa mais importante é tomarem conta deles próprios. Se são treinadores de cães que estão interessados, que são educados e sabem o que estão a fazer, são recursos valiosos. A natureza da profissão do treino de cães é altamente esgotante. Muitas pessoas entram neste mundo com muitos ideais e, passado algum tempo, percebem que é difícil. É difícil ajudar as pessoas, nem todos os resultados são como nós queríamos.

É importante para os jovens treinadores terem a certeza de que estão a ser pagos o suficiente pelos seus serviços. Acho que, por vezes, há uma ideia cultural em que quem ama cães deveria fazer o treino de borla.

 

É verdade, em Portugal acontece o mesmo.

A taxa de suicídio dos veterinários é a mais alta de qualquer profissão, e isso acontece porque, em parte, existe esta ideia. As pessoas entram no consultório e não querem pagar, depois acusam o veterinário de deixar o cão doente ou morrer. O veterinário acaba por ir para casa com esse fardo, quando a verdade é que aquele não era o seu cão e foi o seu dono que não quis pagar. Os treinadores de cães sofrem deste mal também, sentindo que não existe uma compreensão relativamente aos seus preços, quando o trabalho que fazem é difícil e tecnicamente complexo.

Portanto, é prioritário que tomem conta de si próprios, que sejam pagos devidamente pelos seus serviços para que possam viver as suas vidas. Devem procurar o apoio da sua comunidade, envolverem-se num grupo com outros treinadores para terem suporte, para poderem falar e trocar ideias. Devem ter a certeza de que estão formados tecnicamente para realizarem o seu trabalho, evitando irem para casa sabendo que não foram capazes de resolver um problema básico.

Por tudo isto, acho que os jovens treinadores de cães são o futuro, são recursos muito valiosos e nós precisamos de tomar conta deles.

 

Jean, muito obrigado por esta entrevista, foi uma honra para nós. Esperamos ter a oportunidade de falar consigo novamente.

Sempre que queiram! Obrigada por estarem a fazer o trabalho que estão a fazer. É muito importante!

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