Mastim Tibetano
Ficha Técnica
- Grupo: 2 - Pinschers, Schnauzers, Molossóides, Cães de Montanha e Boieiros Suiços
- Secção do grupo: 2.2 – Molossóides, tipo montanha
- País de origem: Tibete
- Data de origem: Antiguidade
- Primeira utilidade: Cão de guarda e de pastoreio
- Peso aproximado: 36 – 72 Kg
- Altura aproximada: 61 – 70 cm
- Cores: Preto (com, ou sem, marcas acastanhadas | Castanho | Vermelho dourado (com, ou sem, marcas acastanhadas) | Azul cinza (com, ou sem, marcas acastanhadas). Alguns Mastins Tibetanos têm pequenas marcas brancas no peito e/ou nos pés.
- Esperança média de vida: 12 anos







História do Mastim Tibetano
Sem ele, a História seria outra
Um conjunto de estudos desenvolvidos através da análise de amostras de DNA, apontam para que os cães de tipo mastim se tenham desenvolvido no Tibete há 5 mil anos atrás. Estes cães são, precisamente, os antepassados do Mastim Tibetano. No que se refere aos registos escritos sobre os ascendentes desta raça ancestral, os mais antigos foram encontrados na China e são datados à volta de 1100 a.c..
Ao longo de inúmeros séculos, o Mastim Tibetano foi sendo apurado como cão de trabalho pelas populações que vivem nas montanhas dos Himalaias, e, graças ao isolamento do Tibete em relação ao exterior, que se manteve até ao início do século XIX, este apuramento não sofreu qualquer influência ocidental.
Durante o processo de apuramento, os tibetanos dividiram estes cães em dois tipos diferentes: o Do-Khyi,... que podia viver em aldeias ou viajar com pastores nómadas, trabalhando como guarda de rebanhos; e o Tsang-Khyi, que era maior e que, na maior parte das vezes, vivia nos mosteiros budistas do Tibete com a função de proteger estas instalações, sendo cuidado pelos próprios monges.
Segundo a tradição tibetana, os Mastins Tibetanos possuem as almas dos monges e das freiras budistas que não entraram no paraíso, chamado de Shambhala pelos budistas. Na base desta tradição está o conceito budista de samsara, que significa ciclo de renascimentos. Esta conceito explica que os humanos podem renascer em diferentes formas de existência, o que está dependente do seu karma. Caso o karma seja negativo, podem renascer como animais. Ora, como o Mastim Tibetano tem um temperamento muito forte e tem a função de cão de guarda, mostrando-se hostil para com estranhos, a sua alma poderá reflectir o “mau-feitio” de alguns monges e freiras.
No Tibete esta raça é popularmente conhecida como Do-Khyi (nome que corresponde ao primeiro dos dois tipos de mastins referidos anteriormente), que significa “cão amarrado”, uma vez que a prática de amarrar estes cães para não atacarem estranhos fora da zona que devem guardar é comum.
Dado que, por um lado, esta raça se desenvolveu de forma isolada, e que, por outro, os tibetanos não tinham por tradição registar a herança genética dos cães que criavam, sabe-se muito pouco sobre vários aspectos do seu desenvolvimento. Contudo, muitos estudiosos partilham a opinião de que a maioria das raças de trabalho de grande porte que hoje conhecemos, como os mastins e os cães de montanha, têm, entre os seus antepassados, o Mastim Tibetano.
Alguns estudiosos, partindo do facto de que Alexandre da Macedónia (356–323 a.C.), fundador do maior império alguma vez visto, tendo levado as suas fronteiras até à Índia, trazia, para as suas campanhas militares, cães especialmente poderosos, propõem a teoria de que Alexandre ficou espantado com o tamanho, força e temperamento do Mastim Tibetano. Neste contexto, decidiu importar inúmeros destes cães para a Mesopotâmia, Pérsia, Grécia, entre outras zonas do seu império.
Com o passar do tempo, foram cruzados com cães de raças europeias, dando origem a vários cães de tipo mastim. O historicamente famoso Molossus, um tipo de cão criado originalmente na Grécia Antiga e que trabalhava como cão de caça grossa, como cão de guarda de rebanhos e de propriedades, e como cão de guerra, era, muito provavelmente, descendente do Mastim Tibetano. Após terem conquistado a Grécia, os romanos utilizaram os Molossus para os mesmos fins que os gregos utilizavam e, ainda, para os combates de gladiadores.
Apesar do Molossus ser um tipo de cão extinto, o seu DNA mantém-se presente em várias raças que hoje conhecemos, graças a cruzamentos que foram sendo feitos ao longo da História. Entre estes destacamos: Mastim Napolitano; Cane Corso, Mastim Inglês (Mastiff); Grand Danois; Rottweiler; e São Bernardo.
O registo oficial do primeiro exemplar conhecido de Mastim Tibetano que entrou na Europa data de 1847. Este foi oferecido à rainha Victoria do Reino Unido (famosa pela adoração por cães) pelo vice-rei da India britânica, Lord Hardinge. Mais tarde, em 1874, o Rei Eduardo VII do Reino Unido, antes de ser coroado, importou dois exemplares desta raça, os quais foram mostrados ao público um ano mais tarde numa exposição realizada no Alexandra Palace, em Londres. Posteriormente, foram sendo, de forma esporádica, importados mais alguns exemplares, até que, em 1931, foi criado o primeiro clube da raça no continente europeu.
O missionário, militar e antropologista norte-americano Robert Ekvall (1898-1978), passou muitos anos na China e, especialmente, no Tibete, onde estudou e escreveu sobre as diferentes culturas que encontrou. No seu ensaio “O Papel do Cão na Sociedade Nómada Tibetana”, escrito em 1963, Ekvall fala sobre o relacionamento secular entre o Mastim Tibetano e os pastores nómadas. Neste ensaio, afirma que estes cães “funcionam para criar privacidade e distância social em situações em que isso é uma necessidade”, explicando que “não existe nenhuma tenda onde não haja, pelo menos, dois cães” para a proteger, sendo que os” chefes e os homens mais ricos podem ter vinte ou mais exemplares”. Para Ekvall, a característica mais marcante do Mastim Tibetano é o seu “latido incrivelmente forte”.
A partir do último quartel do século XX, o Mastim Tibetano começou a ser cada vez mais apreciado no Ocidente, sendo visto como um cão de guarda exótico. No caso particular dos Estados Unidos da América, a linhagem actual dos exemplares criados neste país descende de exemplares que foram importados no final dos anos setenta do século passado.
A primeira importação conhecida de um Mastim Tibetano para os Estados Unidos ocorreu em 1958, quando um casal desta raça foi oferecido ao presidente norte-americano Dwight David Eisenhower, pelo ministro das relações exteriores do Nepal. Contudo, esta história não terminou da melhor maneira. O presidente norte-americano, a sua família e o staff da Casa Branca, pensavam que os cachorros oferecidos pelo governante nepalês eram Terriers Tibetanos, bastante mais pequenos do que o gigante Mastim tibetano. Ao aperceberem-se de que estavam errados, segundo consta, enviaram o casal de Mastins para uma propriedade rural situada no Midwest, nunca mais se ouvindo falar deles desde então.
Temperamento do Mastim Tibetano
O guardião ancestral
O Mastim Tibetano evoluiu durante milhares de anos para ser um cão de protecção de excelência, seja para proteger a casa (ou uma tenda, no caso dos pastores nómadas), a família ou o rebanho (tradicionalmente, ovelhas e iaques). Para o cumprimento das suas funções, desenvolveu um temperamento independente, uma inteligência instintiva muito acima da média e um apurado instinto de protecção.
A sua grande capacidade para trabalhar como cão de guarda reflecte-se na forma como consegue afastar os intrusos sem necessidade de os matar. O seu tamanho, ladrar forte, determinação e assertividade são suficientes para afastar potenciais ladrões ou predadores. A partir do momento em que estes se afastam, o Mastim Tibetano não os persegue, deixando-se ficar tranquilo no seu posto. Esta característica de autocontrolo é assinalável.
Como acontece com qualquer cão... de guarda, esta raça demonstra um comportamento reservado perante estranhos, os quais prefere ver à distância. Contudo, com a sua família, a realidade é muito diferente. Consegue criar laços muito fortes com todos os membros da sua família, mostrando-se sempre gentil e leal, inclusivamente com as crianças. Naturalmente, devido ao seu enorme tamanho, é preciso estar atento às interacções com as crianças mais pequenas, uma vez que as pode, inadvertidamente, magoar.
O sentido de alerta e o instinto protector do Mastim Tibetano leva-o a reagir prontamente perante qualquer situação que interprete como ameaçadora para a sua família. Para que não reaja de forma hostil para qualquer pessoa fora do seu círculo familiar, e para que consiga conviver com outros cães, é fundamental apostar numa socialização activa e controlada desde muito cedo.
Educar e treinar um Mastim Tibetano é uma tarefa exigente. Esta é uma raça independente e teimosa, apesar de ser também inteligente e de aprender rapidamente. Isto significa que pode ser bem integrada num contexto familiar e respeitar as regras da casa, porém, para que isso aconteça, é preciso uma boa dose de paciência e muita consistência no dia a dia.
O temperamento do Mastim Tibetano aliado ao seu porte majestoso fazem com que seja um animal que se adapta incomparavelmente melhor a um contexto rural do que a um contexto urbano. Na verdade, a adaptação a um contexto urbano pode, até, ser uma tarefa bastante ingrata.
Saúde do Mastim Tibetano
O Mastim Tibetano é, em termos gerais, uma raça saudável. Contudo, como acontece com qualquer outra raça, podem surgir alguns problemas de saúde.
No que se refere aos problemas de saúde ortopédicos, começamos por referir a displasia da anca (ou displasia coxofemoral). A displasia da anca caracteriza-se pela má colocação do osso do fémur na articulação da anca (ou do quadril), levando a dificuldades de locomoção e ao desenvolvimento de artrite. Os cães com esta condição não devem ser reproduzidos.
Sendo esta uma condição hereditária, pode ser agravada por questões ambientais, tais como por um rápido crescimento promovido por uma dieta rica em calorias ou por lesões causadas por pulos, quedas ou pancadas.
Outro problema ortopédico que pode ocorrer é a displasia do cotovelo. Esta condição, tal como a anterior, é hereditária, sendo... muito comum em raças de grande porte. O motivo do seu aparecimento relaciona-se, na maioria dos casos, com um crescimento a diferentes velocidades dos três ossos que compõem o cotovelo de um cão (úmero, rádio e ulna).
Esta condição leva a problemas de locomoção e pode causar uma dor intensa. Dependendo da sua gravidade, o tratamento pode passar por um controlo apertado da dieta e do peso, por medicamentos que aliviem a dor ou por uma cirurgia.
A panosteíte também pode surgir. Este problema ortopédico, que pode coloquialmente ser descrito como dores de crescimento, caracteriza-se por uma inflamação dos ossos longos que afecta cães jovens de raças grandes, causando claudicação. Esta condição dura, em termos gerais, de um a seis meses, ficando resolvida, na grande maioria das vezes, com a maturidade. O desconforto causado pode ser gerido através de analgésicos.
A última condição de foro ortopédico que interessa mencionar é a osteocondrite dissecante. Esta caracteriza-se pelo crescimento inadequado da cartilagem das articulações, desenvolvendo-se, normalmente, no ombro, mas podendo também desenvolver-se no cotovelo. Causa bastante dor e para ser resolvida é preciso, nalguns casos, uma intervenção cirúrgica. Sendo uma condição hereditária, os cães que a têm não devem ser reproduzidos.
Ao nível do sistema nervoso, existe uma condição chamada Neuropatia Desmielinizante Hereditária Canina que pode surgir por volta das seis semanas de idade. Ao afectar os nervos periféricos dos cães, levando a problemas na transmissão dos impulsos nervosos, os sintomas manifestam-se através de fraqueza muscular, perda de sensibilidade, dificuldade de coordenação e, nos casos mais graves, paralisia.
Finalmente, interessa referir o hipotireoidismo, uma doença do sistema endócrino que, na maior parte dos casos, afecta cães de meia-idade e idosos. Esta acontece quando a glândula da tireóide tem uma produção insuficiente de hormonas tireoidianas, levando a problemas cardíacos, digestivos e do funcionamento do próprio cérebro. Os sinais mais visíveis desta doença são o ganho de peso, a pele escamosa e a falta de energia. Esta doença pode ser bem controlada através da toma diária de medicação, à qual o cão ficará sujeito durante toda a sua vida.
Ao nível dos cuidados de higiene, é importante fazer uma a três escovagens semanais, por forma a remover os pêlos soltos e mortos. A não ser que se suje muito por uma determinada razão, um banho mensal é o suficiente.
Como acontece com qualquer raça, é fundamental escolher um bom criador, que seja bem referenciado e cujos exemplares sejam saudáveis.
Aparência Física do Mastim Tibetano
- Cabeça larga e robusta
- Pescoço arqueado e muito musculado
- Peito muito profundo e musculado, e costelas bem arqueadas
- Membros poderosos e bem angulados
- Pelagem comprida e lisa, com subpêlo espesso e pesado
- Costas direitas e musculadas
Características do Mastim Tibetano
Cão de guarda
Climas Frios
Cuidados com a Pelagem
Dormir no Exterior
Relacionamento com outros Cães
Treino
Curiosidades
No mundo da criação, existem exemplares vendidos a preços exorbitantes, o que levanta várias objecções de diferentes naturezas. O Mastim Tibetano, por ser uma raça famosa e, ao mesmo tempo, rara, pode atingir valores inimagináveis.
Um destes exemplos ocorreu em Pequim, em 2014, numa exposição de “cães de luxo”. Um empresário de Qingdao (cidade portuária no leste da China), que pretendia começar a fazer criação de Mastins Tibetanos na sua cidade, adquiriu um exemplar por um valor astronómico muito próximo dos dois milhões de dólares (em rigor, US$ 1.950.000,00).












