Beagle
Ficha Técnica
História do beagle
Ilustres e populares caçadores
A designação “Beagle” surgiu em Inglaterra, durante o século XIV, sendo empregue para identificar os cães de rasto e de pequena estatura. A etimologia desta palavra é controversa. Uns dizem que deriva da palavra francesa begueule, que significa “garganta aberta”, outros que deriva da palavra galesa beag, que significa “pequeno”, e outros ainda que deriva da palavra alemã begele, que significa “chamar a atenção”.
Apesar de haver diferentes teorias sobre a origem do Beagle, como a de que este é o resultado do cruzamento entre o Harrier e antigos sabujos ingleses, existe uma tese que reúne um consenso bastante alargado. Guilherme I, o Conquistador, que se tornou Rei de Inglaterra em 1066, após ter partido da Normandia (região do noroeste de França) para conquistar a Inglaterra, trouxe consigo um... tipo de cão que ficou conhecido entre os ingleses como Talbot Hound. Ora, as gravuras e descrições medievais do Talbot Hound indicam que raças como o Beagle, o Bloodhound ou o Foxhound são seus descendentes.
Durante os reinados de Eduardo II (1307-1327) e de Henrique VII (1485-1509), de Inglaterra, foram criados Beagles muitos pequenos, conhecidos como Glove Beagles (Beagles de luva), que se tornaram altamente populares entre as classes mais abastadas. Consta que estes cães miniatura podiam ser segurados por uma mão enluvada.
Dois séculos mais tarde, Elisabete I (1533-1603), rainha de Inglaterra, ficou conhecida por ter vários Beagles extremamente pequenos, que tinham apenas 23 cm de altura, o que os levou a ficar conhecidos como Pocket Beagles (Beagles de bolso). Este tipo de Beagle foi representado em pinturas e chegou a ser usado para a caça, embora com pouco sucesso. Com o passar dos tempos, os Pocket Beagles deixaram de encantar a realeza e acabaram por desaparecer.
Não sendo comparável com as suas versões miniatura do passado, o Beagle, em relação a outros sabujos, tem uma pequena estatura, o que o impede de acompanhar a caçada a cavalo. Por esta razão, em tempos idos, era transportado em selas para depois ser libertado no lugar certo. O seu uso regular para as caçadas a pé na Grã-Bretanha fez com que esta actividade ficasse conhecida como “beagling”.
Já em pleno século XVIII, a caça à raposa tornou-se altamente popular em Inglaterra, o que fez com que o Beagle ficasse relegado para um segundo plano, vendo o Foxhound assumir o protagonismo. Foi graças aos agricultores ingleses, galeses e irlandeses que o Beagle não entrou em extinção, uma vez que deram continuação à criação da raça para os acompanhar na caça de lebres e de coelhos.
Em meados do século XIX, o reverendo Phillip Honeywood, cunicultor de excelência, criou uma matilha de Beagles no condado de Essex, em Inglaterra, com o intuito de desenvolver bons cães de caça, não se preocupando com a componente estética. Estes cães são, muito provavelmente, os ascendentes do Beagle moderno. Mais tarde, um amigo de Honeywood, chamado Thomas Johnson, preocupou-se em criar Beagles que aliassem as boas competências para a caça com uma estética atractiva.
Foi também no século XIX que criadores norte-americanos começaram a importar Beagles de Inglaterra, desenvolvendo depois a sua própria criação no sentido de os tornarem ainda mais aptos para a caça ao coelho. Um senhor nova-iorquino chamado Willet Randall desenvolveu, por volta de 1880, uma linhagem de Beagles que ficou especialmente conhecida pela espantosa velocidade que os respectivos exemplares alcançavam. Esta linhagem, que ficou conhecida como Patch Beagle, alcançou uma enorme popularidade na década de cinquenta do século XX. Ainda hoje, muitas pessoas nos EUA chamam aos Beagles semelhantes aos desenvolvidos por Randall de Patch Beagles.
O primeiro clube do Beagle foi criado, curiosamente, no mesmo ano do AKC (American Kennel Club), em 1884. Não admira que, no seu primeiro ano de actividade, o AKC tenha começado a registar exemplares da raça.
Tal como aconteceu com a maioria das raças europeias, as duas Grandes Guerras reduziram significativamente o seu número de exemplares. Contudo, a partir dos anos cinquenta do século passado, a sua popularidade cresceu significativamente, principalmente nos Estados Unidos da América, como referido anteriormente.
A incrível capacidade olfactiva do Beagle tem sido utilizada para várias funções. De entre estas, destaca-se a de rastreador nos aeroportos. Esta função foi iniciada em 1984, no Aeroporto Internacional de Los Angeles, no seguimento da decisão do Departamento de Agricultura Norte-Americano de recorrer a esta raça para farejar e descobrir alimentos contrabandeados. Esta experiência foi de tal maneira bem-sucedida que, actualmente, “patrulhas de Beagles” inspeccionam áreas de retiradas de bagagens em mais de vinte aeroportos internacionais nos EUA. O facto de esta raça ser pequena, amigável e afectuosa faz com que não assuste, nem incomode, os muitos milhares de passageiros que circulam nestes aeroportos diariamente.
Actualmente, o Beagle ainda é usado para a sua função original: caça de coelhos e lebres. O seu ladrar profundo, capaz de dar o alerta a grande distância, é uma das características que os caçadores do passado, e do presente, mais apreciam na raça. Mas é como cão de companhia que o Beagle é mais apreciado, sendo hoje uma das raças mais populares do mundo.
Temperamento do beagle
O cão dos 3 “As”: amigável, afectuoso e activo
De temperamento amigável e afectuoso, o Beagle é um cão enérgico e alegre, adaptando-se muito bem a famílias activas, sendo muito tolerante com as brincadeiras dos mais novos, o que não significa que não deva haver uma supervisão destas brincadeiras, uma vez que, tanto as crianças como o cão, podem excitar-se e fazer com que esta interacção degenere.
A sua boa disposição faz as delícias dos que o rodeiam, no entanto, necessita de exercício físico diário, pois, caso não o tenha, virará a casa do avesso e importunará os vizinhos com a sua voz que se caracteriza por ter um tom grave e sonante. Se lhe forem proporcionados bons passeios diários, pode adequar-se à vida num apartamento.
Tendo sido criado para caçar em matilha, desenvolve facilmente uma boa relação com outros cães,... ainda assim, deve-se apostar, desde cedo, numa socialização activa e controlada com os seus semelhantes. Já no que respeita a animais mais pequenos é preciso ter mais atenção, sendo fundamental apostar numa socialização desde cachorro, evitando que os instintos de caça falem mais alto.
Apesar de ter um baixo grau de dominância, o treino não é uma tarefa tão fácil como pode inicialmente parecer. Como sabujo (scenthound, como dizem os ingleses), perde-se facilmente pelo mundo dos cheiros e a seguir pistas, ignorando os comandos do dono. O Beagle tem 220 milhões de receptores olfactivos, o que é incomparável com os 5 milhões de receptores que os seres humanos têm. Dave Barry, um famoso humorista norte-americano, descreveu de forma lacónica esta raça, afirmando que se trata de “um nariz com pés”.
Dada a sua natureza, é preciso tomar atenção aos movimentos destes cães durante os passeios, visto que, de focinho colado ao chão, seguem um determinado cheiro sem pensarem em mais nada, o que os poderá colocar em situações perigosas, nomeadamente atropelamentos.
A frustração que advém da falta de resposta aos comandos e da teimosia que costuma caracterizar os sabujos, não pode traduzir-se numa abordagem mais ríspida, ou até agressiva, uma vez que isso levará a uma degradação da relação entre o dono e o seu cão.
Também é importante não ceder à sua expressão carinhosamente suplicante, como se fosse um cachorro abandonado, nos momentos em que pretende qualquer coisa, muito provavelmente comida. A consistência e a coerência são essências para se alcançar bons resultados no treino.
Finalmente, interessa referir que o Beagle tem dificuldade em ficar sozinho, o que se explica por ter sido desenvolvido ao longo de séculos como cão de trabalho em matilha. Ter outro companheiro de quatro patas, que pode até ser um gato, ajudá-lo-á bastante nesses momentos.
Saúde do beagle
Existe uma doença genética que continua presente em muitos exemplares desta raça, o MLS – Síndroma de Muladin-Leuke. Esta doença afecta os músculos dos cães, causando deformações em diferentes partes do corpo.
No que respeita a doenças de foro ortopédico, existem três que podem incidir sobre o Beagle. A primeira é a Doença do Disco Intervertebral. A medula espinhal é cercada pela coluna vertebral e, entre os ossos da coluna vertebral, existem discos intervertebrais que funcionam como amortecedores, permitindo o movimento das vértebras. Esta doença ocorre quando a camada interna gelatinosa dos discos se estende para o canal espinhal e empurra a medula espinhal. Esta pressão sobre a medula espinhal, se for leve, causa dor no pescoço ou nas costas, e se for grave, causa perda de sensibilidade, paralisia e descontrolo do intestino e da bexiga. O dano causado pela compressão espinhal pode ser irreversível. Normalmente, é necessário fazer uma cirurgia para aliviar a pressão na medula espinhal, embora nem sempre esta cirurgia consiga resolver o problema.
A segunda doença que pode ocorrer é a displasia da anca. Este é um problema hereditário que se caracteriza pelo mau encaixe do fémur na articulação da anca (quadril), o que se traduz na crescente dificuldade de locomoção. Um bom criador garantirá que os seus exemplares não sofrem deste problema, através de um rigoroso processo de selecção.
Finalmente, a terceira doença de foro ortopédico que pode surgir é a luxação da patela, que ocorre tipicamente em cães pequenos. Esta doença, que está presente desde o nascimento, surge quando a patela (que se divide em três partes: fémur, rótula e tíbia) não está devidamente alinhada, causando problemas de locomoção e podendo levar ao surgimento de uma artrite (doença articular degenerativa). Caso a luxação da patela seja de um grau de gravidade elevado, deve-se proceder a uma cirurgia.
Relativamente a questões oftalmológicas, existem duas doenças que podem ocorrer: o glaucoma, que se traduz numa pressão no olho anormalmente alta, a qual, para além da dor que causa, pode levar à própria cegueira, caso não seja devidamente tratada; e a Atrofia Progressiva da Retina, que se caracteriza por um distúrbio ocular degenerativo que pode, eventualmente, levar à perda de visão. Este distúrbio pode ser detectado muito tempo antes dos primeiros sinais de perda de visão aparecerem, sendo que, os bons criadores, dão garantias de que os seus exemplares não sofrerão deste problema.
Outro problema que também pode ocorrer é a epilepsia, sendo muitas vezes hereditário. Trata-se de uma condição neurológica que pode causar convulsões ligeiras ou graves. Actualmente, se esta doença for convenientemente acompanhada por um veterinário e se este administrar a medicação adequada, é possível oferecer uma boa qualidade de vida ao cão. Muitas vezes, o hipotireoidismo, que se caracteriza pela produção insuficiente de hormonas por parte da glândula da tireóide, está na base do surgimento da epilepsia.
Também é importante estar atento ao que os ingleses chamam de Beagle Dwarfism, que poderemos traduzir como Nanismo Beagle. Esta é uma condição em que, como o próprio nome indica, o cão é mais pequeno do que o normal.
Quanto às questões de higiene, para além da escovagem, que deve ser realizada semanalmente, é muito importante limpar cuidadosamente os seus ouvidos e as suas orelhas, que, por serem pendentes, se arrastam no chão e facilmente acumulam sujidade, podendo levar ao aparecimento de otites.
Por fim, interessa referir a tendência do Beagle para engordar, caso não faça exercício físico suficiente. O peso excessivo pode provocar problemas nas articulações e nas costas.
Aparência Física do beagle
- Escuro à nascença, o nariz pode ficar cor de rosa acastanhado
- Orelhas delicadas e longas
- Patas dianteiras redondas e firmes
- Peito moderadamente profundo e costelas bem elásticas
- Coxas com bastante força propulsora
- Cauda erecta e branca na ponta
Características do beagle
Curiosidades
O norte-americano Charles Schulz, um dos maiores cartunistas de todos os tempos, considerado a maior influência por inúmeros cartunistas das gerações seguintes, ficou para a História por ter criado a celebérrima banda desenhada Peanuts, em 1950. A mais famosa personagem desta banda desenhada chama-se Snoopy, o Beagle antropomórfico que, juntamente com Charlie Brown (a segunda personagem mais conhecida), faz parte do imaginário colectivo Ocidental.