Cães maus ou donos irresponsáveis?

Recentemente, fomos inundados por notícias sobre ataques de cães. Trata-se de um problema que merece ser debatido, mas com consciência de que, entre as vítimas, se encontram também os próprios cães.
cães maus ou donos

Recentemente, fomos inundados por notícias sobre ataques de cães a pessoas, especialmente a crianças. Numa semana, três ataques a crianças foram notícia em vários órgãos de informação, o primeiro ocorrido em Matosinhos por um Rottweiler, o segundo em Arouca por um cão arraçado de Serra da Estrela e o terceiro em Ílhavo por um Fila de São Miguel.

Mas muitos outros ataques ocorrem, sendo que, segundo dados da GNR e da PSP, foram apresentadas, durante o ano de 2016, uma média de três queixas por dia relacionadas com ataques de cães. Este problema merece ser debatido para que possa ser solucionado. E este debate não deve ocorrer entre aqueles que consideram os cães como coisas, desconhecendo, ou ignorando, a sua dimensão emocional, e aqueles que consideram os cães como criaturas moralmente superiores ao Homem.

Entendamo-nos bem, os cães não têm moral. Não conhecem o certo e o errado. Humanizá-los é não os aceitar como eles são e condenar, logo à partida, uma comunicação entre diferentes espécies.

Os cães conhecem o seguro e o inseguro. É a partir desta dicotomia que muitos dos seus comportamentos se explicam. Nenhuns dos ataques que ocorreram foram motivados por um desígnio maléfico que é usualmente imputado a determinadas raças. Falem com qualquer especialista em psicologia e comportamento canino e ele corroborará o que aqui está escrito.

Naturalmente, quando assistimos a estes ataques, a nossa preocupação deverá recair sobre as vítimas. E as vítimas são, desde logo, as pessoas atacadas. Um episódio deste género pode, para além dos danos físicos, deixar traumas difíceis de ultrapassar, especialmente para as crianças.

Mas é fundamental que não esqueçamos que os cães que apresentam estes comportamentos agressivos e que são, posteriormente, abatidos, são também vítimas. Eles nunca mordem por maldade porque isso implicaria um juízo moral que não possuem. Eles mordem porque não foram devidamente sociabilizados pelos seus donos, sentindo-se inseguros na presença de outros cães e/ou pessoas, e porque, como aconteceu no caso do Rottweiler, foram instigados a atacar. Acabam, por isso, por pagar com a vida a incapacidade, o desleixo ou as más intenções dos seus donos.

Os responsáveis pelos ataques dos cães são os respectivos donos. A causa do problema está nas pessoas que os usam como armas ou que, por responsabilidade própria, não sabem comunicar com eles. Logo, o problema não se resolve por abater cada cão que ataca um ser humano. O problema resolve-se pela informação, pela pedagogia e pela mudança de mentalidades. Donos mais responsáveis e preparados para educar os seus cães é o bastante para que estas situações deixem de acontecer.